sábado, 17 de setembro de 2011

Ciclo do Milho Murtosa - 2.ª e 3.ª Etapa

Os Ranchos Folclóricos “Os Camponeses da Beira - Ria” e “As Andorinhas de S.Silvestre”, a Associação Desportiva e Recreativa das Quintas”, a Confraria Gastronómica “O Moliceiro” e a “Fraternidade de Nuno Álvares”, vão prosseguir com a acção/actividade denominada “Ciclo do Milho”, que se iniciou no passado dia 8 de Maio, no Lugar da Béstida, da Freguesia do Bunheiro, com o lavrar, gradar e semear de um terreno a milho.

Ora, é este milho que foi semeado de acordo com os métodos correntes nos anos 50, 60 e 70 do século passado (século XX) que, agora, no próximo dia 17 de Setembro, vai ser cortado (com as foicinhas), carregado para o carro de vacas e transportado para as imediações do Cais da Béstida, onde, depois de depositado em monte, vai ser cascado.

Dentro do possível, todo este processo vai obedecer aos ritos habituais naqueles tempos em que, na Murtosa, o principal meio de locomoção era pedestre (a pé) e de bicicleta.

Assim, por cerca das 17.30 horas, chegarão ao terreno as pessoas que, trajadas “ao tempo”, de foicinha ao ombro, irão cortar o milho.

Cerca de meia hora mais tarde (18.00 horas), virão os carros de vacas, que começarão a carregar o milho, enquanto continuará o corte do mesmo.

Por cerca das 18.45 horas, os carros de milho dirigir-se-ão às imediações do Cais da Béstida, referido, onde ficarão até à hora da cascadela.

Às 21.30 horas, num cenário que procurará, continuamente, lembrar aos mais velhos os tempos de outrora e transmitir aos mais novos uma imagem/retrato de uma parte da vida no campo vividos há 40 e mais anos atrás, nas proximidades do Cais da Béstida, citado, será chimpado para um monte o milho dos carros e, de seguida, o “pessoal da casa” e alguns “vizinhos” começarão a cascar o milho.

Entretanto, irão aparecendo os moços, que se aperceberão, à distância, da existência da cascadela pelos apupos e, mais próximo, pelos cantares das “moças”, que, desse modo, chamam a atenção dos “moços” e ajudam a passar o tempo.

Depois, escondidos/disfarçados com gabões e colchas, apupando lá aportarão os “moços”, mencionados que, com voz roufenha, dizendo banalidades, tudo fazem para não serem descobertos/reconhecidos.
Neste desenrolar dos acontecimentos, os “moços” que têm um interesse mais próximo do namoro com as raparigas presentes, descobrem-se ou já chegam mesmo sem disfarce, ajudam a cascar o milho, na busca de espigas vermelhas (milho rei), que são pretexto para festa, variando esta de lugar para lugar, pegam numa das asas do gigo das espigas para as despejar no carro ou na eira.
Raras vezes, porque nem todos sabem tocar concertina, viola ou harmónica de boca, aparecem grupos de rapazes acompanhados de um tocador, que fazem as delícias dos presentes.

Também no dia 1 de Outubro, pelas 21.30 horas, na Casa - Museu Custódio Prato, na Freguesia do Bunheiro, terá lugar a última cascadela (das papas de S. Miguel – 29 de Setembro), em que se cascará o milho, enquanto alguns “moços” vão malhando as espigas na eira, o dono da casa cozerá a bola (de pão de broa) e dará papas de abóbora aos presentes, agradecendo, deste modo, a colaboração dos vizinhos na tarefa de cascar o milho durante as várias noites da safra.

Em alguns casos, alguns “moços” com o intuito de agradarem às suas preferidas/amadas e ao dono da casa levam uma tocata e forma-se um bailarico (autorizado pelo dono da casa), em que todos se divertem.

Este recuo no tempo, estes momentos de memória e de história, poderão ser revividos por cada um de nós e por quem nos visitar, sendo ocasião e reforço de identidade e do sentido de pertença a este Território que
é nosso, a Murtosa.













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